domingo, 13 de março de 2011

Construção civil atrai trabalhadores nordestinos para o sul do país


Quando José Elton Pereira recebeu convite para trabalhar na construção civil em Curitiba, a reação foi imediata. "Onde que é isso?", perguntou ele, que nasceu em São João, no Piauí, e já havia procurado emprego em Brasília e em São Paulo. Ele desembarcou na capital paranaense em setembro e, em janeiro, trouxe dois amigos, com os quais divide uma casa. Mas o rapaz solteiro, de 28 anos de idade, não está à vontade na cidade. "A moda daqui é diferente. A balada é outra", diz.
Osnildo de Oliveira Roseno, 27 anos, deixou a mulher em Icó, no Ceará, e veio atrás da oportunidade de atuar como carpinteiro no Sul, depois de ter tentado o mesmo em São Paulo. "Aqui é melhor. Tem menos correria", diz, sem esconder o desejo de ficar pouco tempo, porque vai ser pai em agosto. Ele hoje mora em um alojamento com outros 15 colegas, entre eles José Vicente Leandro, 42 anos, também de Icó, que planeja trazer a família que deixou na capital paulista e também os amigos. "Quem tem conhecido na região, vai chamar para vir para cá", opina ele, que veio para trabalhar na construtora Gafisa há sete meses e agora está na construtora Plaenge.
São Paulo sempre foi o Estado que mais atraiu cidadãos do Nordeste em busca de oportunidades de emprego e renda. Eles também chegaram ao Paraná no passado, principalmente para trabalhar na agricultura. O que se vê agora é o movimento de empresas e empreiteiros que vão até outros Estados atrás da mão de obra que falta no Sul. Alguns desses trabalhadores já deixaram o Nordeste anos antes e estão aceitando fazer uma nova mudança. Outros são buscados na origem.
Um dos responsáveis por contratar nordestinos para trabalhar no Paraná é Evandro Freitas, encarregado de obras de uma empresa em Campinas, a A.S. Serviços de Construção Civil, e que foi chamado pela construtora paranaense Plaenge para ajudar a erguer prédios em Curitiba. "A gente já conhece o pessoal do Nordeste que tem experiência e vai buscar", explica ele, que também deixou Icó em 1986. Freitas vive há seis meses na cidade e já trouxe 16 pessoas de fora, número que planeja aumentar para 46 em dois meses.
"Falta gente", diz Fernando Fabian, diretor e um dos sócios da Plaenge, que tem sede em Londrina (PR), faturou R$ 1 bilhão no ano passado, e vai precisar de mais gente para atingir o objetivo de crescer 50% em 2011. O empresário conta que o problema de falta de mão de obra é maior em duas cidades em que a empresa atua, Curitiba e Cuiabá (MT). Mas ainda não há o movimento de nordestinos para o Centro-Oeste.
Não é só na construção civil que as empresas encontram dificuldade para contratar pessoal no Paraná. A prefeitura de Curitiba tem organizado feiras em uma praça central da cidade para que as empresas divulguem suas vagas e disputem os que vão até o local interessados em emprego com carteira assinada. Representantes das áreas de recursos humanos de supermercadistas estão sempre presentes. No interior do Estado, cooperativas têm recorrido à contratação de índios e presidiários em regime semiaberto para manter o quadro que precisam em seus frigoríficos de aves.
A Plaenge possui 1,6 mil empregados e, segundo Fabian, o número de terceirizados chega a quatro vezes isso. "A importação de pessoal de várias cidades teve início há dois anos e há seis meses começaram a chegar trabalhadores do Nordeste", diz. A construtora montou uma escola de construção e está começando a treinar a segunda turma de pedreiros. Também decidiu incentivar mulheres com a formação de azulejistas. Quer formar 400 trabalhadores até o fim do ano e distribui panfletos nas obras para encontrar os futuros alunos.
Enquanto isso, em dois dos 16 canteiros de obras mantidos pela Plaenge em Curitiba, os nordestinos atendem por dois nomes, Paraíba ou Ceará. É comum ouvir no local alguém dizer pra levar alguma coisa que "o Paraíba está precisando". Outro nome bastante citado é "Ricardão", uma provocação para os que deixaram mulher em outro Estado. "No Ceará, chamamos de Zé da Bodega", comenta Antonio Nunes da Silva, 45 anos, que nasceu no Piauí e morou por 25 anos em São Paulo, onde ainda vivem a ex-mulher e dois filhos. "Vim conhecer um lugar diferente", diz, em uma manhã de chuva fina. "Se o frio atacar, vou ter de correr atrás de alguém", responde, ao ser questionado sobre o clima de Curitiba.
A proximidade do inverno preocupa os engenheiros que acompanham a rotina dos novos trabalhadores. "Vão enfrentar o primeiro inverno curitibano", lembra a engenheira Marilucia Oliveira, que demorou três meses para contratar um servente de pedreiro, oferecendo salário de R$ 720 mais refeição. Outro engenheiro, Marcelo Campiolo, explica que há falta de serventes porque, sempre que um vai bem na profissão, acaba sendo treinado para outras funções.
Tanto patrão como empregados dizem que o preço por metro quadrado de serviço executado é parecido no Paraná ou em São Paulo. Longe da família e vivendo em alojamento, os trabalhadores "importados" passam o maior tempo na obra e ficam em casa apenas no domingo.
Esli Carvalho Lopes, 19 anos, solteiro, aceitou o desafio de mudar de Estado para ser servente. Ele é de Abreulândia, no Tocantins, e chegou em dezembro com a intenção de ficar um ano. Mas já chamou um irmão, que "está querendo" vir. "Lá é fraco de serviço." O engenheiro Adriano Sovierzoski diz que hoje conta com 80% de trabalhadores de Curitiba e 20% de fora, em especial do Nordeste, no canteiro onde vai erguer um edifício, no bairro Campo Comprido. Mas ele acredita que a relação vai mudar com o avanço da obra. "Devemos ter uma relação quase inversa, com 60% de gente de fora", diz.

Fonte: Força Sindical

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